A língua materna é aprendida de maneira natural no meio onde o bebê é criado e, como ele não nasce falando, é capaz de aprender qualquer língua a que for exposto. Há bebês que são expostos a duas línguas e são capazes de aprender as duas. No entanto, isso é mais raro e, no cenário brasileiro, somos expostos ao português. Se quisermos aprender uma língua estrangeira, ela será adquirida por meio de um processo artificial.
Todos podem se tornar fluentes independente da idade em que começam a estudar. No entanto, fluência não quer dizer necessariamente ausência de sotaque. A grande questão está no processo e no período de estudo. As crianças, até cerca de 12 anos, aprendem um novo idioma com muito mais facilidade e rapidez por causa da altíssima e refinada plasticidade cerebral. Ela as permite usar os dois hemisférios para a aquisição da proficiência de um jeito mais equilibrado. A plasticidade é a capacidade que o cérebro tem de se modificar, de se reorganizar, de se reestruturar e de aprender, estabelecendo novas conexões neurais e aumentando sua reserva cognitiva.
A formação completa do cérebro é uma longa jornada, ocorrendo em torno dos 20 anos de idade. Diferente das crianças, no cérebro adulto, o aprendizado fica concentrado a um hemisfério, normalmente o esquerdo. Isso explica por que os adultos são mais racionais quando estudam e usam o idioma estrangeiro. Para usar a língua materna isso não acontece, inclusive muitas pessoas dizem que é mais fácil brigar, negociar e até xingar em português porque envolve muito o emocional.
O desafio em aprender o inglês está em ensinar ao cérebro um caminho diferente do que ele percorreu até então em português, como por exemplo: o som do TH; a entonação; na gramática, o uso dos verbos auxiliares para estruturar frases interrogativas e negativas; no vocabulário, o uso dos phrasal verbs.
A combinação de estímulos + desafios amplia a teia neural, ou seja, as sinapses. Quando isso acontece, há aumento da velocidade, conectividade e qualidade dos nossos pensamentos. Potencializamos a plasticidade do cérebro adulto. Essas são algumas ações concretas:
1- Sair da zona de conforto e da rotina de fazer sempre as mesmas coisas, porque, assim, só se iluminam as mesmas conexões neurais de sempre. Esta ação leva ao item 2.
2- Fazer coisas diferentes ou que nunca fez, tais como: andar de skate; surfar; tocar um instrumento; escrever com a mão não dominante; escrever ou desenhar de olhos fechados; dançar; pintar; cozinhar; aprender outro idioma estrangeiro se já está estudando inglês.
3- Conhecer novos lugares, novas pessoas.
4- Fazer ginástica cerebral, utilizando jogos de tabuleiro, videogames, quebra-cabeças, caça palavras, jogos educativos etc.
5- Fazer exercícios físicos regularmente, com treinos diferentes.
6- Cuidar da alimentação, ingerindo mais peixes, frutas vermelhas, ovos, azeite e oleaginosas.
Por fim, todas essas ações, que listei acima, são estímulos e desafios. O número de horas em exposição e uso da língua, que desejamos aprender, também é estímulo. Quanto mais horas tivermos de exposição variada, melhor a retenção e automação. O processo de assimilação é muito mais lento para quem estuda ou usa o idioma por apenas 1 ou 2 horas semanais. A frequência intensa e a regularidade contribuem para as questões motoras, uma vez que nosso aparelho fonador (dentes, língua, nariz e cordas vocais) automatiza os sons, e para o cérebro que automatiza o vocabulário e a estruturação gramatical do português. Vale ressaltar que esse estímulo não é só aula com professor… mas isso é assunto pra outro artigo!
Escrito por Ligia Veloso para a revista Você RH
Lígia Velozo Crispino, sócia-fundadora da Companhia de Idiomas (https://www.companhiadeidiomas.com.br). Graduada em Letras e Tradução pela Unibero. Curso de Business English em Boston pela ELC e extensões na área de Marketing na ESPM, FGV e Insper. Coautora do Guia de Implantação de Programas de Idiomas em empresas e autora do livro de poemas Fora da Linha. Mobilizadora cultural à frente do Sarau Conversar, cofundadora do Instituto Velô. Mentora voluntária da Fundação Éveris. Colunista da Revista Exame. Hobbies: aquarela e fotografia. Quer falar comigo? ligia@companhiadeidiomas.com.br.